A captura ideal de um sinal analógico, em que distorções de reprodução são mantidas num mínimo absoluto, só pode ser alcançada por meio de equipamentos de reprodução modernos e bem conservados, idealmente de última geração. Ao se reproduzir formatos históricos, alguns parâmetros de reprodução (como velocidade, equalização, formato de pista, tipo de estabilização de base temporal etc.) devem ser escolhidos de maneira objetiva e baseados no conhecimento do formato histórico específico.
Alguns ajustes no equipamento de reprodução podem ser necessários, a fim de que possam estar de acordo com as características originais de gravação e para otimizar a captura do sinal gravado. O erro de azimute, por exemplo, é comum em gravações analógicas de fita magnética, e somente pode ser corrigido durante a reprodução do suporte original, no momento da digitalização. Do mesmo modo, o print-through relacionado a condições de armazenagem deve ser minimizado no momento da captura do sinal. Outras imprecisões pequenas no ajuste do percurso da fita das gravações originais também podem provocar um aumento considerável e evitável de erros.
Em relação ao vídeo, alguns tipos de dropouts são mais bem neutralizados no momento da transferência. Quando uma película é copiada, alguns riscos podem ser mais bem eliminados ou suprimidos através do uso de um banho líquido na copiadora, no momento da transferência. Em uma transferência realizada por meio de escâner digital, o uso de fontes de luz difusa específicas pode provocar o mesmo efeito.
A fim de reduzir possíveis danos aos suportes originais, os equipamentos de reprodução devem receber manutenção permanente de acordo com normas profissionais. De modo a auxiliar nisso e para diagnosticar problemas que possam vir a surgir, instrumentos de calibragem compatíveis com os equipamentos de reprodução deverão ser utilizados sempre que disponíveis.
No caso de formatos digitais armazenados em suportes, diferentes equipamentos de reprodução ou leitura podem capturar dados de um mesmo suporte de diferentes maneiras, sendo que nem todos apresentarão de forma satisfatória o fluxo de bits para o processo de transferência. Para avaliar e detectar esses problemas é fundamental um monitoramento de erros durante a reprodução, realizado em tempo real, ou um relatório de erros gerado após a captura feita em alta velocidade. A presença de erros que não puderam ser corrigidos – e que foram copiados para os arquivos de preservação resultantes – deve ser documentada.
Os formatos digitais armazenados em suportes podem conter vários tipos de informações de subcódigo, ou seja, informações secundárias registradas em paralelo ao fluxo de bits da informação primária. As incompatibilidades entre os dispositivos de gravação e de reprodução podem fazer com que essas informações sejam capturadas de maneira incorreta, ou nem o sejam. É extremamente importante entender as propriedades de um determinado formato ou coleção, inclusive quaisquer informações de subcódigo, e definir qual seria a combinação de informações primária e secundária mínima necessária antes da sua digitalização (ver seção 2).
Não é sempre tarefa fácil avaliar os parâmetros de reprodução corretos para um determinado documento audiovisual analógico quando não estão disponíveis as informações objetivas a respeito dos parâmetros do formato de gravação. Assim como em outros campos da pesquisa histórica, o uso de aproximações cuidadosamente escolhidas é permitido, quando necessário. No entanto, por uma questão de princípio, decisões como essas devem ser documentadas, e deve-se evitar etapas que não possam ser revertidas. Quaisquer tratamentos desnecessários, de ordem subjetiva, devem ser aplicados somente a cópias de acesso.
Comentários:
A captura inadequada de sinal a partir de documentos originais é quase sempre resultado da falta de conhecimento profissional ou do uso de equipamentos inapropriados. Ao se reformatar materiais problemáticos, é difícil superestimar a importância das capacidades e da experiência dos operadores, assim como a disponibilidade de equipamentos específicos. As pistas de som óptico das películas cinematográficas, por exemplo, podem ser bem difíceis de se transcrever, e o uso de equipamentos altamente especializados pode ser fundamental.
Em algumas circunstâncias, pode ser apropriado utilizar uma abordagem de vários níveis para a escolha dos parâmetros de reprodução. Isso pode envolver a digitalização e a criação de arquivos digitais de preservação sem procedimentos de equalização, sendo a equalização aplicada somente durante a criação de arquivos digitais de acesso ou através de um software, no momento do acesso.
Quando os processos de transferência de película que utilizam uma única luz são considerados apropriados, por exemplo, a saída RGB deverá ser ajustada no sentido de se obter o máximo de informações de cor de cada canal, de modo a corrigir o esmaecimento de cor sem a introdução de qualquer distorção.
Melhores práticas para a transcrição de películas para preservação ainda estão em desenvolvimento, inclusive um trabalho de ponta em estudo sob os auspícios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas (Academy of Motion Picture Arts and Sciences, AMPAS) e da Sociedade de Engenheiros de Cinema e Televisão (Society of Motion Picture and Television Engineers, SMPTE). Esses novos avanços ajudarão a padronizar métodos que terão um impacto especial na captura de cor e na representação da variação tonal das películas originais. No entanto, os sistemas que implementam esses novos avanços ainda não estão amplamente disponíveis. Além disso, esses métodos ainda não foram empregados em instituições de memória.
Ainda é amplamente negligenciada a captura sistemática de informações de subcódigo de formatos digitais armazenados em suporte como método de proteção de informações secundárias importantes. Em grande medida, isso se deve à incompatibilidade entre os formatos de subcódigo de diferentes reprodutores e interfaces. Até o momento, poucos padrões – se é que algum – foram amplamente adotados para a conservação futura dessa informação para formatos de arquivo digital. Problemas de compatibilidade também podem ser encontrados com frequência durante a reprodução de discos ópticos graváveis ou regraváveis.
Os princípios descritos nesta seção se aplicam, de maneira inequívoca, aos casos em que as informações primárias existem sob a forma de registros documentais, seja documentando performances artísticas ou outras formas de expressão. Porém, caso as informações primárias existam como parte de uma obra de arte – quando, por exemplo, uma escultura ou uma instalação artística possuem um componente audiovisual – pode haver a exigência ética adicional de se preservar as distorções originais da reprodução, havendo, portanto, uma divergência desses princípios com a finalidade de respeitar as intenções do artista. Pode ser necessário determinar as intenções do(s) criador(es) original(is) para se escolher como esses objetos artísticos podem ser melhor representados em um ambiente baseado em arquivos digitais.